As relações humanas e sociais estão em constante alteração, o que vêm sendo acelerado nos últimos anos em todo mundo em função de novas tecnologias, mudanças econômicas, temas ligados à área ambiental e principalmente pelo estilo de vida buscado pelas novas gerações.
Neste cenário de mudanças acentuadas, somou-se uma pandemia de proporções alarmantes, vista poucas vezes na história, alcançando mais de 250 milhões de infectados e mais de 5 milhões de mortes até novembro de 2021.
Para enfrentar a pandemia, muitas ações foram tomadas, desde simples melhorias nos hábitos de higiene pessoal até duras ações de “lockdown”, passando por períodos longos de restrição das atividades e afastamento social, ocasionando reinvenção de negócios e jornadas em home-office para muitos. Muitas destas medidas de controle estão sendo chamadas de “novo normal” por muitos estudiosos que acreditam que conviveremos bastante tempo com o vírus entre nós, e trazem uma dúvida. Será que dá para viver assim para sempre?
Eu imagino que num futuro breve, teremos sim o “novo normal”, mas ele não será o normal pré-Covid, tampouco o atual, como tamanhas incertezas, mudanças de direção e pouco planejamento. Acredito que com o avanço das vacinas, com o maior conhecimento dos mecanismos da pandemia e o melhor uso dos recursos para o combate da mesma, gradualmente iremos poder voltar a realizar nossas atividades com os cuidados necessários como já está acontecendo no mundo. Mas não acredito que toda esta experiência passe sem deixar marcas.
A experiência do distanciamento acelerou algumas questões que já vinham sendo notadas na sociedade. As compras on-line deram um salto, consequentemente tendo mais adesões também dos lojistas e trazendo novas funcionalidades cada vez mais simplificando os processos. O home-office para muitas pessoas se mostrou uma opção excelente, reduzindo deslocamentos, horas perdidas que podem ser aproveitadas com a família e com produtividades até superiores, sem falar na redução de custo fixo das empresas entre outras. Muitos destes adventos vieram para ficar.
Mas a maior experiência que creio que ocorreu foi as famílias olhando para dentro de si e seu modo de vida. O estilo de vida defendido pelos mais jovens atualmente é focado no “ser” tendo prevalência sobre o “ter”. Experiências valem mais que capital acumulado como bem reflete a hashtag campeã das redes “Yolo” (You only live once ou você só vive uma vez). Este estilo de vida bateu de frente com o momento que estamos vivendo, as experiências foram limitadas significativamente e precisaram ser momentaneamente reinventadas dentro dos círculos familiares e das comunidades e comércios locais. Obviamente esta tarefa não é simples, mas tem um potencial transformador quando atingida.
De certa forma, a pandemia forçou a reflexão dos valores dentro das famílias e das suas comunidades locais, potencializando a já crescente economia colaborativa e a valorização das experiências. A ausência das relações diretas entre as pessoas provou que o ser humano é um “bicho social” e que as redes estão longe de suprir este espaço.
Na outra ponta, vemos o mercado imobiliário apostando em unidades maiores, com espaço para home-office, academia para cada apartamento, unidades de muitos metros quadrados, com valores proporcionais. Diante dos elementos que discorri, acredito num movimento bem diferente.
Muitas pessoas tiveram impacto significativo sobre a renda durante o período da pandemia, gerando um grande contingente de possíveis consumidores descapitalizados e mesmo assim com necessidade de aquisição ou troca de moradia. Mesmo pessoas que mantiveram ou aumentaram seu poder aquisitivo, na minha visão não vão mais imobilizar quantias que beiram o total de suas economias em um imóvel. A valorização das experiências vai trazer outras demandas que serão privilegiadas.
Desta forma o papel do mercado imobiliário passa a ser projetar para não entregar metro quadrado e sim opções que agreguem valor a vida, ao ambiente e a sociedade. Nossos produtos deverão ser mais práticos, autênticos, interativos, sustentáveis, tecnológicos e colaborativos.
Nós, profissionais do mercado imobiliário teremos a missão de buscar nos movimentos sociais o estilo de vida das pessoas e traduzir com uso de tecnologia massiva em formas de negócios e produtos que possam atender estas necessidades sem utilizar as soluções fáceis de optar entre produzir unidades simplesmente aumentando metros e preços e sendo inacessíveis ou reduzindo as unidades ao extremo, sem agregar soluções, para caber no bolso, mas tornando a vida impraticável.
Diversos modelos de negócios vêm sendo trabalhados, desde colivings, sistemas de locação on demand, unidades residenciais em zonas mais afastadas permitindo a horizontalização, condomínios com grandes áreas compartilhadas agregando serviços, tudo suportado por incrementos de tecnologia que amenizem as dores dos mercados tradicionais. Não existe solução única, mas existem caminhos importantes a serem trilhados. A compreensão das necessidades e aspirações do público alvo de cada empreendimento e o acompanhamento da jornada do cliente desde seu princípio são fundamentais para que nosso mercado também se reinvente e consiga sair da inércia das ofertas fáceis e sem mercado.